Sinopse:
A cidade de São Paulo no final da década de 1920. Urbanismo, moda, monumentos públicos, industrialização, fatos históricos, expansão da produção de café, educação e som da vida cotidiana. Usando o documentário clássico Berlim: Die Sinfonie der Großstadt (1927) como modelo, os cineastas húngaros Adalberto Kemeny e Rodolf Lustig, que possuíam um dos melhores laboratórios de cinema que o Brasil tinha na época, fizeram esse documentário.
Contexto:
A cacofonia visual de uma cidade em crescimento desenfreado. Um agito comercial e financeiro a postos. O pensamento de avanço pelo progresso via o crescimento da metrópole alude ao seu amanhecer da com certa consciência do que a mesma tem a acarretar. Do jornal como enciclopédia de importância ou de coisa descartável como exemplo, chega a apontar um trato de contradição e dubiedade como estratégia de começo apenas (só num pequeno trecho inicial), para se delegar ao tesão por um progresso agressivo via cenas de arquitetura urbana. Comércio de café. Rádio. A vertigem da cidade moderna. Truques de multiplicação de imagens servem ao aspecto múltiplo das imagens em exploração, mas sem sair de uma primeira camada que estas imagens ensejam. Acaba por funcionar como uma propaganda citadina. Com foco na tal “luz” do progresso. Similaridade a um esquema de institucionalização de um cinema/cartão-postal em prol de São Paulo. Com algumas ideias soltas interessantes é verdade, mas sem encaixes de linguagem mais estritos, como a já citada multiplicação de imagens ou – noutro exemplo – de montagens de planos com os mais variados relógios de pulso, que denotam uma crescente preocupação das pessoas com o tempo, algo que casa objetivamente com a gênese de “progresso” via a urgência, mas este elemento acaba por se findar rapidamente e fica solto na narrativa apesar de se emendar de maneira en passant com parte da proposta. O maior destaque – e preocupação da obra – é, de fato mostrar a garbosidade/grandiosidade de São Paulo, e nisso o filme se arvora como registro da farta arquitetura paulistana do período. Com diversas edificações e estruturações urbanosas a rodo que servem para dimensionar o tamanho daquela agitada metrópole, e como a mesma possa ser uma representação de um país que luta pela entrada rumo a um crescimento num novo século através de sua prosperidade econômica e tecnológica. O humano aqui como figuração diante de uma cidade em ebulição imagética. Um registro de assaz importância para a história brasileira, mas que lhe falta sagacidade para com o contraditório de suas próprias estruturações.
Por Ted Rafael