Sob o Céu Nordestino (1929)

Sinopse:

Um panorama socioeconômico e cultural do Nordeste. “Documentário sobre o Estado da Paraíba, com aspectos gerais das cidades de Umbezeiro, Borborema, Bananeiras, Araruna, Campina Grande, Patos, Santa Luzia e Cabedelo. Vaquejada nos arredores de Umbezeiro, o comércio de algodão e a feira de Campina Grande, a pesca da baleia nas costas de Cabedelo”.Originalmente um longa divido em capítulos, menos de 1/4 da obra conseguiu ser preservada.

Contexto:

Partindo da criação dum longa-metragem documental (sobrara a metragem de um curta) com grande parte da gravação perdida – estima-se que apena ¼ sobrevivera ao tempo –, e que busca se provar como um trabalho que vise dar dimensão aos âmbitos do dia a dia das cidades e localidades nordestinas do começo do século 20  (mais precisamente a década de 20 do mesmo). Desde a “promiscuidade” do gado sem fronteiras na vaquejada aos festejos da mesma, passando por diversas ações e ambientações que servem como documentação, histórica, econômica, iconográfica e cinematográfica da região. Planalto da Borborema (situada no grosso de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte), e as cidades de Umbuzeiro, Bananeiras, Araruna, Campina Grande, Patos, Santa Luzia e Cabedelo, são algumas das paragens paraibanas nas quais o material se debruça em registrar. A vegetação da serra em contraste com o sertão. A mostra da diversidade ambiental nordestina, ao contrário do conhecido e divulgado como senso comum de nossos espaços – eterna seca e pronto, segundo muitos – pelos mais variados meios de comunicação e artísticos (inclusive nordestinos). Dá-se vulto aos percursos de estradas de carroçagem e de rodagem pelos quais o filme perambula além de expor uma terminologia que ainda resiste no sertão mais profundo, afinal estradas de carroçal (terra batida e apropriada para veículos como carroças como o radical semântico já manda uma dica), ainda são de relativo conhecimento comum. A câmera faz variadas panorâmicas acerca das localidades visitadas, unindo costumes e espaços, buscando montar uma conjuntura minimamente tácita de funcionamentos diversos entre as práticas culturais e – principalmente – econômicas. Com obrigações espaciais inclusas ao mostrar partes importantes como estações de trem e açudes, além dalguns elementos de importância das citadas economias locais, como o tratamento com o gado e exportação de algodão. Finda no duro acompanhamento da pesca da Baleia iniciada em Cabedelo. A Indústria do Óleo do cetáceo – retirada do toucinho e transformação no tal óleo, para o preparo dos couros e nos maquinários (etc..), que eram concernentes do período. Um material inacabado, infelizmente, que possui ainda assim uma riqueza de detalhes que funcionam tanto como fontes históricas úteis, quanto como imagens sujeitas à qualificação documental diante dos mais variados níveis de informações contidas em sua curta duração, mesmo quando sabemos de sua condição inacabada. Talvez exatamente por isso a obra deixe o sabor agridoce de “quero mais” em seu fechamento de embocadura.

Por Ted Rafael

Assista ao filme: